sábado, 23 de janeiro de 2010

Depois apareceu André. Ele havia enlouquecido na tarde anterior. Borboletas azuis voavam sobre a sua cabeça...
Nos aproximamos, eu estava com uma flor amarela nos cabelos. Uma borboleta pequenina, especialmente azul, pousou na flor e não quis mais sair de lá. A partir daquele dia eu também enlouqueci um pouco. Ou, talvez, a borboleta soubesse que eu já havia enlouquecido há algum tempo...

O fato é que a borboleta azul, infinitamente linda e azul, pousou na flor amarela.

Rubem Alves diz que o amor é um pássaro pousado no ombro. Nessa história o amor é uma borboleta azul pousada na flor amarela...

- Olha o céu... ta tão azul.
-É, ta lindo... sem nuvens, com esse sol amarelo.
-Amarelo que nem a flor no seu cabelo.
-É... que nem a flor... Essa flor foi minha avó quem me deu.
-Foi?
-Sim, uma velhinha figura... que adora enfeites e flores, e que acha que sempre se arrisca menos do que poderia se arriscar...
-E por que ela não se arrisca mais?
-Não sei. Será que ela tem medo de se perder?
-Ou de se achar...

(silêncio)

-Você acha que o mar tem fim?
-Não tem... Você gosta de mim?
-Não sei... Quero te conhecer.
-Mas se a gente é infinito...
-Infinito é o mar.
-E a gente também.

(silêncio)

-Traduz seu silêncio pra mim?!
-Mas o silêncio não se traduz...
-Então traduz o pensamento ?!
-A gente combinou que não ia pensar tanto, lembra?
-Sim, e você consegue?
-Não... você sabe...

(silêncio)

-Mas você quer tentar?
-Sim, ir indo... vem comigo?
-O perigo é a gente se perder...
-O perigo é a gente não perceber que já ta perdido...
-Quem sabe a gente se encontra...
-Quem sabe...

(silêncio)

-Que dia você volta da sua viagem?
-Dia 18. Mas talvez eu não volte nunca mais...
-Dois dias antes do meu aniversário.
-Você é Capricórnio?
-Sim.
-Igual a minha vó... a que deu a flor amarela...
-E você?
-Sou Áries.

(silêncio)

-Por que talvez você não volte nunca mais?
-É que eu sinto que vou morrer...
-Morrer?
-No mar...
-Você não sabe nadar?
-Até sei... mas ás vezes o mar é bravo e outras vezes ele é tão calmo... eu não entendo...
-Eu também não entendo...mas a gente não precisa entender... só precisa viver...ir indo... mergulhar, boiar, pular umas ondas quando for necessário...
-É, mas mesmo assim... eu sinto que vou morrer... logo...
-Você ta com medo?
-É... acho que sim... “mas é doce morrer no mar de lembrar... e nunca esquecer... se eu tivesse mais alma pra dar eu daria, isso pra mim é viver...”
-Eu gosto dessa música...
-Eu também.

E assim aconteceu... tão de repente... a borboleta veio, pousou. E quando começou a ser percebida, ela bateu asas... voou... Foi morrer em algum lugar por aí...
É uma pena que algumas espécies de borboleta vivam apenas um dia...

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